Talvez eu morra de tanto existir,
talvez um verso me socorra.
E quando passar, é certo,
não seja como um ser abjeto.
Quando eu morrer, à beira mar,
que seja ouvindo o bramido das ondas.
Assim, entre os versos de uma vida
alguma verdade quem sabe se afira.
Quem sabe um poema perdure
e perfure a pele do tempo.
Quem sabe na hora exata o poema
perfeito que não poderei anotar.
Talvez seja um haikai divino,
talvez um soneto fescenino.
O vento deixando no tempo
as palavras trazidas do mar.
Se buscando paz encontrei paisagens,
deixarei uma prece na última tarde.
E montado no dorso do ocaso
levarei, companheira, a saudade.
À filha que tive e muito tenho amado
ficarão os passarinhos nos telhados.
E à mulher que me foi destinada,
um concerto de orquídeas no jardim.
Ficarão as cinzas do que fui
junto aos coqueiros de Olivença.
E junto aos sonhos irrealizados,
aforismos à próxima existência.
Sem que pelas palavras seja revelada,
de mim apenas a natureza restará.
Lembrarão da minha voz grave
contra a sujeira do nosso tempo.
Lembrarão dos passos embriagados
atravessando noites enluaradas.
Se for durante a primavera
terei ouvido a Valsa das Flores.
Terei visto pela última vez
um beija-flor na minha varanda.
Mas se for ao verão, que pena;
não mais as meninas douradas de sol.
Alguns amigos ficarão
como sementes que plantei.
A face leve, embora vivida,
dirá sobre o tempo decorrido.
Em forma etérea olharei meu corpo
confortavelmente estendido na areia.
Direi para mim e para os céus:
como foi bom ter vivido em Ilhéus!
(Gustavo Felicíssimo)
talvez um verso me socorra.
E quando passar, é certo,
não seja como um ser abjeto.
Quando eu morrer, à beira mar,
que seja ouvindo o bramido das ondas.
Assim, entre os versos de uma vida
alguma verdade quem sabe se afira.
Quem sabe um poema perdure
e perfure a pele do tempo.
Quem sabe na hora exata o poema
perfeito que não poderei anotar.
Talvez seja um haikai divino,
talvez um soneto fescenino.
O vento deixando no tempo
as palavras trazidas do mar.
Se buscando paz encontrei paisagens,
deixarei uma prece na última tarde.
E montado no dorso do ocaso
levarei, companheira, a saudade.
À filha que tive e muito tenho amado
ficarão os passarinhos nos telhados.
E à mulher que me foi destinada,
um concerto de orquídeas no jardim.
Ficarão as cinzas do que fui
junto aos coqueiros de Olivença.
E junto aos sonhos irrealizados,
aforismos à próxima existência.
Sem que pelas palavras seja revelada,
de mim apenas a natureza restará.
Lembrarão da minha voz grave
contra a sujeira do nosso tempo.
Lembrarão dos passos embriagados
atravessando noites enluaradas.
Se for durante a primavera
terei ouvido a Valsa das Flores.
Terei visto pela última vez
um beija-flor na minha varanda.
Mas se for ao verão, que pena;
não mais as meninas douradas de sol.
Alguns amigos ficarão
como sementes que plantei.
A face leve, embora vivida,
dirá sobre o tempo decorrido.
Em forma etérea olharei meu corpo
confortavelmente estendido na areia.
Direi para mim e para os céus:
como foi bom ter vivido em Ilhéus!
(Gustavo Felicíssimo)
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